Estes dias tenho visto circular piadinhas nas redes sociais a respeito do recall anunciado pelas indústrias UNILEVER do lote de produção TBA3G das bebidas de maçã a base de soja da marca ADES de embalagens de 1,5 litro, vamos esclarecer os fatos à luz da razão.
Este
lote foi produzido na fábrica de Pouso Alegre (MG), e foi constatado
contaminação com solução de higienização das embalagens, sendo que, segundo a
assessoria de imprensa da empresa, 96 embalagens foram envazadas com esta
solução e poderiam provocar queimaduras nas mucosas, e por isso a empresa
imediatamente solicitou o recolhimento deste lote no Mercado.
Mesmo com o recall, há registro de 14 casos de consumo
deste lote contaminado, e a ANVISA, cumprindo o seu papel de proteção a saúde
da população contra consumo de produtos considerados impróprios, solicitou a
suspensão da fabricação, distribuição e comercialização de todos os produtos da
linha ADES, até que a unidade fabril de Pouso Alegre (MG) seja inspecionada
pelos técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e seja constatado a
confiabilidade nos controles de produção e qualidade desta linha de produtos
para que ocorra a sua liberação.
Não há dúvidas que uma empresa com a reputação e
responsabilidade do porte da Unilever irá reparar quaisquer danos causados e
irá atender integralmente a legislação do código de defesa do consumidor, e que
o problema que ocorreu foi decorrente de uma falha pontual das boas práticas de
fabricação neste lote específico, causado por erro humano.
O que está em jogo aqui, e por isso a repercussão em
larga escala, é que estamos falando da segurança da saúde da população, vale
lembrar dos lotes de anticoncepcionais de farinha da Marca MICROVLAR produzidos
pelos laboratórios Schering que se fizeram circular em 1998, também devido a
uma falha humana no controle de qualidade da produção, portanto, não importa o
quanto a empresa assuma suas responsabilidades, o dano já foi causado. Por
sorte em nenhum dos dois casos tivemos mortes. No caso da Schering, ela foi
responsável por um insignificante aumento populacional, e no caso da Unilever,
14 pessoas sofreram danos considerados leves.
Não há dúvidas de que a UNILEVER é uma instituição
secular e uma empresa respeitada globalmente, entretanto, do ponto de vista dos
impactos causados à reputação da empresa e da marca, dos prejuízos causados
para esta linha de produtos no Mercado, nós somente poderemos medir no longo
prazo, e vai depender de quão urgentemente, severamente e assertivamente a
UNILEVER vai resolver este problema, independente destes impactos, posso
afirmar com segurança que a empresa muito brevemente irá retomar a produção e
comercialização desta linha de produtos no Brasil e irá recuperar uma boa parte
de seu público consumidor, e a profundidade dos arranhões na reputação da marca
será medido pela resposta do Mercado.
Para o pessoal da UNILEVER que cuida da gestão
estratégica de marcas no Brasil, este problema poderia se transformar em uma
ótima oportunidade de reformular totalmente o produto em sua qualidade
nutricional, oferecendo para o mercado um produto melhor e superior, e lançar
uma campanha nacional massiva para informar esta mudança, uma vez que o produto
original irá sofrer danos irreparáveis para a sua reputação, e já que a empresa
está na eminência de perda expressiva de sua fatia de Mercado neste seguimento
para seus concorrentes, esta mudança poderia representar uma estratégia de
“blindagem” do market share desta linha de produtos.
APROVEITANDO O DESTAQUE DESTE
TEMA, VAMOS DISCUTIR A QUALIDADE NUTRICIONAL DAS BEBIDAS DE SOJA DO MERCADO
Antes de falar sobre a qualidade das bebidas de soja,
vamos falar sobre a função destas bebidas para a dieta da população.
Para nossa sociedade contemporânea, do consumo rápido e
estilo de vida cada dia mais dinâmico, o leite de vaca principalmente, e suas
bebidas lácteas derivadas, representam uma fonte rápida, prática e segura de
obtenção de parte dos nutrientes essenciais das necessidades diárias de uma
pessoa, e devido ao aumento da incidência de fatores alérgicos na população e
também devido a popularização dos apelos saudáveis do consumo de derivados da
soja, as bebidas de soja acabaram por ocupar um nicho importante do mercado
como substituto alternativo do leite e das bebidas lácteas.
Nestes termos, devemos destacar que os principais
nutrientes que obtemos do leite de vaca vão além dos macronutrientes proteína,
gordura e carboidratos, devemos nos preocupar também com os minerais e
micronutrientes para os quais o leite representa uma das principais fontes da
alimentação contemporânea: o cálcio, o fósforo e as vitaminas A, C, D e do
complexo B.
Vamos discutir primeiro a importância das proteínas do leite,
este é constituído basicamente por caseína (80%) e proteínas do soro (20%),
estes dois tipos de proteínas são de fácil digestão e de rápida absorção, e
fornecem todos os aminoácidos essenciais que nosso corpo necessita.
Já em termos de composição mineral,
um copo de leite pode ser responsável por uma parte considerável do suprimento
dos principais minerais de nossa nutrição, e de acordo com a Tabela Brasileira
de Composição dos Alimentos, um copo de leite semi-desnatado de 200 ml pode
fornecer cerca 23,9 mg de magnésio (9% do VDR), de 368 mg de fósforo (53% do
VDR), 300 mg de cálcio (30% do VDR), 0,8 mg de zinco (11% do VDR), 66 µg de
vitamina A (11% do VDR), 0,3 mg de riboflavina (23% do VDR), 0,1 mg de tiamina
(7% do VDR), 0,17 µg de vitamina D (3,4% do VDR).
Levando em consideração o aspecto
das proteínas, uma formulação de bebida de soja para equivaler ao valor
nutricional do leite de vaca e substituí-lo adequadamente na dieta do
consumidor, deverá ser constituído de proteína isolada da soja de alto valor
biológico, para garantir que em concentrações próximas à de proteína presente
no leite de vaca, o aporte de proteína seja equivalente e tenha a mesma
qualidade de digestão e absorção. Sendo assim, formulações de bebidas de soja
com concentrações inferiores a 5 g/ 200 ml de proteína isolada da soja ou que
contenham extrato de soja no lugar da proteína isolada da soja, são inadequadas
para substituir o leite de vaca como alimento equivalente.
Porque o extrato de soja não é
adequado para a nutrição como substituto do leite de vaca e a proteína isolada
da soja é adequada e equivalente? Por dois motivos, o primeiro é que o extrato
de soja não tem a mesmo valor biológico da proteína isolada da soja em termos
de digestão e absorção, o valor biológico do extrato é muito inferior ao da
proteína isolada, o que prejudica seu aproveitamento nutricional, e o segundo
motivo, é que o extrato de soja ainda pode conter traços de fitatos que são
substâncias desmineralizantes presentes na soja, que podem contribuir com a
perda de minerais ou dificultar a absorção destes em nosso organismo, já a
proteína isolada da soja, devido ao seu processamento para sua obtenção,
praticamente elimina a presença dos fitatos.
Já em relação a presença de minerais
e vitaminas na formulação da bebida de soja, é necessário que esta atenda a
equivalência mínima da composição do leite de vaca para oferecer os mesmos
benefícios nutricionais.
Observando as bebidas de soja que
temos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, praticamente a grande
maioria delas é fabricada a partir do extrato de soja, ou seja, são inadequadas
do ponto de vista do valor biológico das proteínas e de sua concentração,
quando comparadas com o leite de vaca e a sua equivalência nutricional. São
raras as marcas que oferecem a formulação com proteína isolada da soja (são
três no total), sendo que duas apresentam formulação com mais de 5g de proteína
para 200 ml, e uma apresenta formulação com menos de 5 g de proteína por 200
ml.
Do ponto de vista de composição de
minerais e vitaminas, a maioria das marcas oferecem apenas uma formulação
parcial quando comparadas a equivalência com o leite de vaca, e apenas três
marcas de fato conseguem oferecer uma composição mineral e de vitaminas 90%
próximo da formulação do leite de vaca.
Quando combinamos estes dois
fatores, qualidade e concentração da proteína isolada da soja e a composição
mineral e vitamínica, apenas uma marca que é comercializada nos supermercados
atende a equivalência nutricional quase completa quando comparado com o leite
de vaca.
Espero, que com estas informações,
os leitores possam se conscientizar e avaliar melhor os rótulos dos produtos
que consomem, principalmente em relação ao consumo em larga escala das bebidas
a base de soja, e realizar comparações, para se certificar que estão levando
para suas mesas o produto mais adequado em termos de qualidade nutricional.
Esta dica de observar o rótulo serve
para todos os produtos que consumimos no nosso dia a dia para que possamos ser
consumidores a cada dia mais conscientes.
E desejo que o conteúdo deste texto também
possa vir a ser útil para as pessoas que administram as empresas fabricantes de
alimentos, para se conscientizarem que a indústria de alimentos no Brasil venha
a ser de fato comprometida e engajada em oferecer para o público consumidor
cada vez mais opções de produtos com melhor qualidade nutricional e menos
apelos vazios de marketing.
Por
Lecio Fernandes Valencio Junior
Coaching
do Bem-Estar
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